terça-feira, 13 de julho de 2010

Programa de Índio

Eu já estava imaginando que iria ser um programa de índio quando minha mãe atrasou uma hora e meia pra vir nos buscar pra nos levar pro shopping, mas esse é só o começo de um verdadeiro programa de índio(daqueles bem tupis mesmo).
Nós, eu e meus dois amigos, saímos daqui de casa correndo pra conseguir pegar a última sessão do cinema e, graças a Deus, conseguimos pegar com muito suor e muito esmero. Mas antes da sessão eu precisava ir no banheiro, coisa que eu não fazia a muito tempo.
O filme foi daqueles bem chatos pra caramba mas a gente conseguiu se divertir. A sessão acabou por volta das onze horas da noite e, como de costume, nada no shopping estava aberto e, com a fome que eu estava, não teria nada pra comer naquele lugar. E é agora que o bicho pega.
Depois de uma tentativa frustrada de entrar no parquinho que estava fechado, (também, qual parquinho está aberto depois das 11 da noite?) fomos para a parte de fora do shopping esperar meu pai vir nos buscar mas aí vem um diálogo que eu nunca mais quero ter na minha vida:
-Ô amizade, não vai poder ficar aqui não. A gente "estamos" fechando os portões e... não vai poder ficar aqui não. - Me disse o segurança.
-Como assim? - retruquei, inconformado - Você está me dizendo que nós vamos ter que esperar lá fora no frio e com essa chuva? - Ah, esqueci de falar que estava chovendo muito.
O segurança fez uma cara de bunda e eu entendi que ele quis dizer "é" pra mim. Eu fiquei realmente inconformado e disse umas coisas que não vale a pena descrever aqui. Depois de dizer tudo nós fomos procurar um teto pra ficarmos embaixo e nos protegermos da chuva molhada até meu pai chegar para nos buscar. E uma raiva enorme e incontrolável passava por minha cabeça, eu fiquei pensando em nunca mais ir naquele shopping e falar pra todo mundo que aquele shopping é horrível e que quando está chovendo eles põe as pessoas pra fora de propósito só pra elas tomarem chuva e chegarem em casa molhados pra pegarem uma gripe e terem que tomar vacina pra não morrerem de tanto tossir e que o segurança era um cara muito chato. Mas eis que surge meu irmão na conversa e diz:
-Não meu, tadinho do cara, o cara só tá fazendo o trabalho dele.
E o ruim é que é verdade. Se o Lucas não dissesse isso eu iria ficar com raiva daquele segurança pro resto da minha vida, mas ele, por ter feito aquilo, merece ganhar o título de "Empregado do Mês" e ganhar um broche pra falar pra todos que ele já tinha posto 4 moleques pra fora do shopping num dia chuvoso.
Mas continuando a história nós saímos à procura de um teto para que nós não tomássemos chuva. Paramos então em um ponto de ônibus ao lado do shopping.
Lá, que eu me lembro, estavam 4 pessoas: uma senhora com um guarda-chuva pra fora do ponto, um cara de capuz e com os dentes tortos e duas meninas que estavam ouvindo funk no celular.
Eu dei graças a Deus quando o cara entrou no ônibus porque eu tava com medo dele e eu, por ele ter ido, podia sentar-me no lugar dele que estava mais seco que o meu e lá a chuva não me alcançava tanto quanto no lugar anterior.
A senhora do guarda-chuva também foi embora rápido. Ela subiu numa garupa do carinha do moto-táxi e saiu voando. (eu, particularmente, acho uma loucura andar de moto-táxi na chuva ou em qualquer circunstância)
Logo depois as duas meninas que ouviam funk foram embora também. Graças a Deus, aquele som do inferno já tava começando a entrar na minha cabeça.
Quando eles se foram nós tentamos ligar para a minha mãe mas a bateria do meu celular tinha acabado. Então trocamos os chips dos celulares e conseguimos falar com o meu pai pelo celular do meu amigo. Daí passou um senhor e pediu um trocado pra comprar alguma coisa que eu não entendi exatamente. O Lucas, sempre muito generoso, deu-lhe dois reais. Ele agradeceu de coração e logo após nós ficamos imaginando os pensamentos daquele senhor: "Nossa mano, pedi 'uns trocado' pros truta otário que tava lá no ponto e descolei dois conto". Eu acho que ele pediu dinheiro pra comprar droga ou bebida. Mas não julguemos as pessoas né, vai que ele tava com fome.
Então a gente viu que já havia se passado muito tempo e decidimos ir pra frente do shopping ficar sinalizando pro meu pai pra ele nos ver e assim se procedeu.
Até que foi um processo rápido. Não deu nem tempo da gente ficar molhado de verdade e meu pai já chegou. Acho que eu nunca fiquei tão feliz como naquela hora. Aquele tinha sido realmente um programa de índio.
Não me lembro muito da viagem de volta mas me lembro que chegando em casa ainda tive que arrumar meu quarto que estava uma zona. Ah, mas isso não é nada. São apenas ossos do ofício, né?

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