quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Cortar o cabelo

Pra falar a verdade verdadeira, cortar o cabelo é uma das experiências mais femininas que qualquer homem pode ter. Apenas pensar em cortar o cabelo já é um pensamento feminino. Se você acha que não é me responda: por que você tem a vontade de cortar o cabelo? A resposta é sempre a mesma: meu cabelo já está grande demais e é difícil de lavar e etecetera. Mas, por mais que você discorde, você corta cabelo porque você acha que seu cabelo já está sem corte e isso te deixa mais feio; sendo que você diz para os seus amigos que você não liga pra cabelo, cabelo arrumado é coisa de mulherzinha e coisas do tipo.
O homem tem dentro de si uma masculinidade que precisa ser protegida e guardada com muito esmero, não importa o que ele tenha que fazer pra protegê-la e mantê-la intacta. E cortar o cabelo é exatamente o tipo de coisa que fragiliza a masculinidade do homem por ser uma coisa que interfira na beleza. Por isso, o homem tem que lidar cautelosamente com esse fator, cortando o cabelo da forma mais masculina possível. E sem frescura, é claro.
Há 2 classes de homens: os que são extremamente vaidosos e os que não são nenhum pouco vaidosos. Os vaidosos se preocupam com o seu cabelo, mas precisam tomar cuidado para não parecerem femininos na hora de escolher o corte. Já pouco vaidosos não ligam pra isso e cortam o cabelo do jeito que vier na telha. Eu estou no lado dos não vaidosos.
Eu estava com um corte totalmente masculino, punk e alternativo chamado moicano(pra mim, o corte de cabelo mais legal do universo). Meu moicano era muito legal, com direito a máquina 2 nos lados e um comprimento razoável na parte central. Resumindo: muito louco. Mas o problema de tudo isso é que meu cabelo é ondulado, então meu moicano não ficava tão legal quanto o dos caras de cabelo liso. Mas do mesmo jeito era muito legal.
Nas férias eu viajei e deixei meu cabelo crescer até que ele ficou sem corte. Eu pensei comigo mesmo: "Ah, vou cortar meu cabelo. Azar!" e decidi cortar. Aí começa a parte feminina da coisa.
Moicano dava muito trabalho e eu queria um corte mais normal pra não parecer que eu era um maluco sem noção. Nessa onda eu escolhi um corte bagunçado, com um topete desleixado, coisa e tal. Então eu liguei pra moça que corta cabelos e agendei uma consulta pra uma quinta-feira, coisa rápida. Chegando na quinta-feira lavei meu cabelo, que estava precisando seriamente de uma lavagem, e segui rumo ao cabelereiro.
O salãi de cabelereiro, pra quem não conhece, é o lugar mais feminino de todos e lá dentro todas as pessoas, homem ou mulher, só falam sobre coisas femininas como cabelo, filhos, mamadeira e chapinha. Lá eu me senti meio isolado de todos pois, até onde eu me conheço, eu não sou bom em conversar sobre nenhum desses temas. Demorou um pouco para a moça me chamar e nesse tempo de espera eu fiquei jogando Sonic The Hedgehog 2 no meu Ipod. Ela então me chamou e eu especifiquei como eu desejava o corte. Ela, por sua vez, fez o trabalho dela. Muito bem feito por sinal.
Enquanto eu estava sentado naquela cadeira interessante de cabelereiro, com aquele pano que a moça cabelereira põe pra não cair cabelo na camiseta, olhando toda hora pra um espelho gigantesco que estava na minha frente, a moça molhava meu cabelo com aquelas bombinhas de água e ia cortando meu cabelo com muita destreza. Eu ouvi conversas totalmente bizarras sobre gravidez, histórias sobre crianças que punham chiclete no cabelo das outras e sobre o trabalho que era pra tirar o chiclete do cabelo das crianças, histórias entediantes sobre como fazer chapinha e histórias assustadoras sobre TPM. O legal é que as mulheres que estavam no recinto falaram, em média, umas duas mil palavras no tempo que eu estava lá e eu devo ter falado apenas umas 20 pra explicar como eu queria o corte.
A hora de fazer o pézinho é torturante. É, sem dúvidas, uma das piores sensações do mundo. Parece que a moça cabelereira vai arrancar seu cabelo junto com a sua pele e cortar uma veia importante pra sua sobrevivência sem dó nem piedade. Quando eu vou fazer o pézinho minha pressão baixa e eu vejo estrelas. É uma coisa bizarra, mas com o tempo passa.
Depois é a hora de tirar o pano que protege a camiseta dos cabelos, pagar a moça e agradecer por ela não ter nos tirado um pedaço da orelha nem cortado a veia importante do pescoço. Quando saímos do recinto nos sentimos, ao mesmo tempo, mais homens por termos saído daquele lugar totalmente feminino e nos sentimos mais mulheres por termos ouvido tantos assuntos absurdamente femininos. Também nos sentimos indignados pois não nos conformamos que as mulheres que tem cabelo enrolado querem ter cabelo liso e as mulheres loiras querem ter cabelo escuro e vice versa. Mulher é um ser estranho, mas convenhamos que nós homens não vivemos sem elas, é impossível.
No fim das contas cabelo cresce e nós vamos ter que passar por tudo isso denovo, a não ser que viremos hippies e nunca mais cortemos nosso cabelo. Eu já pensei nisso, mas não sei se vale muito a pena.
Contente-se com o seu cabelo, mas não queira acreditar que ele vai ficar assim pra sempre, pois ele não vai! Ao menos que você tenha problemas capilares e tenha um aplique, mas aí são outros quinhentos.